“Você é preconceituoso com as crianças pobres, usando essa fantasia, dando a impressão de bom velhinho, nada mais faz do que vender ilusões para àqueles que tem dinheiro. O mês de dezembro, é reverenciado pelo nascimento de Cristo. Época em que todos recebem presentes de papai Noel. Mas porque, em vez receber presentes, nessa época, sempre aconteceram coisas tristes, que marcaram minha vida até hoje. Se os meninos pobres do subúrbio soubessem o desprezo que você tem por pessoas humildes, jogariam pedras em você. Ainda bem que você não sobe em morros e nem visita as favelas.
É lógico que você não sabe quem eu sou, mais escrevi várias cartinhas, pedindo um presente, que nunca chegou. Como criança pobre, tinha que me contentar e ser criativo. Procurava nas ruas latas vazias de leite, fazia dois furos nas extremidades, colocava um arame, e saía puxando, fazendo de conta que era um carro ( usei esse tipo de brinquedo até quase alcançar a adolescência ). Meu pobre pai, querendo que eu continuasse acreditando em você, fez algumas economias no final do ano, para comprar meu presente. Disse que para ganhar presente de papai Noel, eu deveria colocar meu sapato na janela. Fiz o que meu pai recomendou, e fui dormir, sonhando com o meu presente de natal. Mais quando acordei no dia seguinte, além de não encontrar presente, fiquei sem sapato ( só tinha aquele ), pois o cão que pertencia ao nosso vizinho, havia pego e rasgado (meu velho sapato, acabou servindo de brinquedo ). Por não ter conseguido realizar meu sonho, meu pai ficou tão constrangido que nesse mesmo dia (25/12 ), na parte da tarde, sofreu um A.V.C. ( Acidente Vascular Cerebral ). Foi um corre-corre, mandaram meu irmão buscar um médico ( que também era político ), que foi ate nossa casa, examinou meu pai e mandou comprar a medicação. Assim que meu irmão saiu, meu pai faleceu. Aos prantos, enquanto as outras pessoas estavam felizes comemorando o natal, eu saí pela rua chorando, correndo ao encontro do meu irmão, para evitar que ele comprasse o medicamento.
Cheguei a adolescência, e enquanto outras famílias organizavam a ceia de natal, agente em casa, muito mal tinha o que comer. Na noite de natal, quando saía na a para cumprimentar as pessoas, algumas pessoas faziam que não me viam e entravam em casa quando me avistavam. Além de que papai Noel, sua figura estava sempre na entrada das casas, como se estivesse ali para me barrar.
Fiquei rapaz, comecei a trabalhar e eis que em mais um dezembro, sofro um acidente grave, só que desta vez, Deus não deixou que você levasse adiante, mais uma de suas maldades. Um coletivo passou por cima de mim, mas não ficaram marcas na areia, porque tenho certeza que ele deitou-se sobre mim, e me protegeu.
Passado algum tempo, e novamente em um mês de dezembro, você fez com que eu fosse vítima da maldade e da crueldade humana ( que até então desconhecia ) o golpe foi tão grande, que depois me fez me fez repensar, o conceito que eu tinha sobre o ser humano, ou seja: de amor ao próximo, solidariedade, além de Deus no coração acima de qualquer interesse como: material, social e financeiro.
Papai Noel, você não se preocupou com a minha inocência, enquanto criança (e tantas outras, pobres como eu, que todo dia, passa pelo que passei ), me fez perder meu pai logo cedo, me fez sofrer humilhações na adolescência e depois na idade adulta. Só que as humilhações da idade adulta, fizeram com que eu perdesse a confiança que tinha em meus semelhantes, assim como, cheguei a conclusão de que só a Justiça de DEUS, é realmente justa.
Como posso gostar de você papai Noel, se até na data em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo, você rouba a cena, e consegue ser mais popular do que ele. Ninguém coloca nas lojas ou nas casas a foto ou imagem de Cristo, mas a sua está em toda parte.
Que culpa tenho papai Noel por ter nascido pobre. Como posso gostar de você papai Noel, se por causa da minha pobreza, você nunca lembrou de mim”.
CRONICA E AUTORIA DE JOTA GONZAGA (AUTOR DESCONHECIDO), COM ALGUNS FATOS, BASEADOS NO QUE ACONTECE NA VIDA REAL (RESERVADO DIREITOS AUTORAIS).
JOTA GONZAGA OLIVEIRA.
23/12/2011.
